segunda-feira, 22 de abril de 2013

Wing Chun 10 anos



Hoje dia 22/04/2013 completam 10 anos de minha pratica no Sistema Wing Chun, uma década de treino aparenta ser uma vida, no entanto, tudo passou tão rápido, que às vezes penso que ainda não faz todo esse tempo!

Quando iniciei no Wing Chun eu tinha apenas o pensamento de aprender a lutar, me tornar mais forte, e ter habilidade para me defender caso fosse necessário, esse deve ser o pensamento de qualquer garoto de 14 anos quando inicia a pratica de uma arte marcial, tornar-se mais forte!

Hoje me preocupo muito mais em transmitir a arte e ver o desenvolvimento do meu aluno como ser humano, do que criar um lutador sem objetivos ou perspectiva, obviamente por se tratar de arte marcial, o desenvolvimento da defesa pessoal, nunca é deixado de lado, penso num equilíbrio, este que faça a palavra Arte fazer sentido quando pronunciamos arte marcial!

Em São Roque, passando teoria para os alunos!

Essa é uma questão que independente da idade se não for bem trabalhada, acaba forjando um mal praticante de arte marcial, uma pessoa que não entende o respeito que se deve ter pelos antepassados de arte, pelos companheiros, pelo próprio mestre, pela cultura, tradição e filosofia, ou seja, acaba criando um homem que sabe as ferramentas de luta, mas a usa de forma limitada, enaltecendo apenas o ego com a ilusão de ter mais força e causar temor em outras pessoas, pensando que uma arte marcial é apenas uma luta, apenas um treinamento físico que sirva para competir e causar dor em outras pessoas!

O Wing Chun foi essencial para tornar o homem que sou hoje, não que seja la grandes coisas, mas a pessoa que sou hoje, meus pensamentos, ideais, forma de interagir com as pessoas e em situações do meu dia dia se deve muito ao estudo de situações passadas, conceitos, e explicação que tive de vários mestres que tive a honra de conviver, obvio que nesse caminho pude ouvir e ver coisas que não eram certas dentro do meu pensamento, mas daí vem o crescimento, usar a arte marcial, seus conceitos  como uma forma de decidir o que seguir, o que fazer e como fazer!



Dentro do Wing Chun temos um ditado marcial que diz Kune Yao Sam Fat (as técnicas devem partir do coração) essa é uma analogia dizendo ao praticante para o que quer que faça, coloque o coração, se empenhe ao fazer, e foi isso que fiz quando iniciei meu treinamento no Wing Chun mesmo não tendo nem noção dessa frase chinesa na época!

Quando iniciei meu treinamento eu tinha 13 anos, faltando alguns dias para completar 14, apenas estudava, então aproveitei essa época, treinava todos os horários possíveis no Mokwoon (sala de treino), quando chegava em casa revisava o treinamento com meu primo, que junto comigo iniciou seu treinamento nessa mesma data mas não continuou seu treinamento por alguns motivos profissionais, quando sobrava algum tempinho de domingo, convidava meu amigo e hoje aluno Michel, para treinarmos, quando estava com febre forte e não podia treinar fisicamente eu ia na aula somente para anotar o que meus companheiros de treino praticavam, qual exercício o Professor estava passando, cheguei em algumas ocasiões treinar com a mão trincada, com virose e etc., posso dizer que nessa época pude me dedicar exclusivamente á arte marcial!


Em razão desse pensamento eu ficava irritado, quando algum aluno falta por motivo banal, coisas bobas que se administrar o horário corretamente, vai conseguir executar as duas tarefas, talvez isso seja pela minha forma de ver arte marcial, mas hoje entendo melhor que cada um tem seu objetivo na arte marcial, e não posso comparar minha visão e objetivos com a de outras pessoas!

Hoje algumas pessoas que conheci nessa época, me dizem: “Poxa você realmente ficou muito bom, também se matava de treinar, não tinha como não ficar!”. Eu concordo que realmente me matei de treinar, discordo que sou muito bom, e saliento que eu persisti, coloquei o coração no que eu queria, mas ao mesmo tempo em que fiz isso, renunciei muitas outras coisas que pessoas que tinham minha idade faziam, deixei de comparecer em eventos da minha família, festas com amigos, tive lesões, perdi oportunidades que eram legais para um adolescente e tantas outras coisas, não me arrependo de nada, pra cada escolha existe uma renuncia, eu apenas escolhi o que meu coração mandou, e hoje me sinto bem com o que pude adquirir frutos das minhas escolhas!




Em minha vida marcial tive a oportunidade de ser instrutor em outra linha de Wing Chun sem  ser a qual atuo como professor, na linhagem Fât Cheong, foi aonde me encontrei, e me senti bem, no começo não foi fácil, por vir de outra escola era natural que meu Sifu não tivesse confiança no que eu iria fazer com o que iria aprender, foi um período bastante interessante que levei como um teste psicológico, a vontade de aprender todo o conteúdo extraordinário que meu Sifu tinha a oferecer tanto técnico, como na parte cultural, filosófica e tradição, me mantiveram focado no meu objetivo.

Foto do dia que conheci meu Sifu Peterson, meados de 2008.


 Antes de encontrar meu Sifu, pratiquei cerca de quatro anos e meio outra linhagem, e logo de inicio percebi que o mundo Wing Chun era enorme, e que eu não havia aprendido praticamente nada do que é Wing Chun, apenas sabia algumas técnicas básicas a quais foram praticamente todas corrigidas, sabia códigos de conduta copiados de frases de Bruce Lee e filmes de Kung Fu, outros copiados de paginas na internet, e tinha o espírito de luta de aguentar e distribuir pancada, que era algo que era meio que obrigado á ter nessa escola que treinei, de tudo isso, o espírito de luta foi à única coisa que mantive, o restante esvaziei a xícara para provar o novo chá! Rsrs

Com o passar do tempo de treino, decidi que um dia quando estivesse preparado queria  compartilhar o que o Wing Chun tinha me ensinado para outras pessoas, e convivendo com Sifu, esse desejo só aumentava, já não tinha mais o tempo da adolescência para treinar, trabalhava, fazia faculdade, tinha namorada, mas ia me virando e treinando em cada tempo que sobrava, assim o tempo foi passando e Sifu me acolheu, me convidava para dormir em sua residência, por vezes ficamos até as duas da manhã treinando, ou me ensinando algo teórico, me mostrando arquivos pessoais dele com meu Sigung, fotos, vídeos, escritos, cadernos com desenhos de técnicas, e no outro dia por mais exausto que estava, la pelas oito da manhã Sifu já me acordava para tomar café e voltar ao treinamento, voltava para minha cidade de noite quebrado, mas feliz e eternamente grato por situações únicas que poucos tem chance de vivenciar!


Com isso acabei conhecendo melhor meu Mestre, rindo com ele, às vezes discutindo, concordando, discordando, mas mantendo uma sadia relação de Mestre e discípulo, quem não conhece bem meu Sifu, talvez se incomode com coisas que ele fala, ou forma que age, mas eu que tive essa oportunidade de conviver, sei exatamente o Mestre honrado que é, e me orgulho de ser seu discípulo!

Em 2010 comecei a lecionar Wing Chun em São Roque, por insistência do meu aluno mais velho, e hoje Sihing Waldemar! Inicialmente decidi ensinar Wing Chun de tanto que ele insistiu, e por meu Sifu dizer que era pra eu arriscar que já tinha conteúdo suficiente para iniciar, não levei a serio como deveria, mas aos poucos fui observando que era isso que queria fazer para sempre, me alegra demais ver alunos da turma de 2010, praticando firme até hoje, hoje considero meus alunos meu orgulho, gosto da presença deles, me preocupo se o que estou transmitindo está conseguindo atingir o objetivo de torna-los bons praticantes, que entendam os valores marciais que aprendi e que eles amem a arte marcial, e entendam que é uma arte, e não um mero esporte de luta, hoje posso dizer que somos realmente uma família, os laços que foram criados serão lembrados até meu ultimo respiro!

Primeira turma de 2010, Bruno, Rafael e Waldemar, desde então fiéis discipulos!

Quando comecei a lecionar, ouvi muitos dizerem, que era apenas um moleque brincando de ensinar, e que logo estaria sem alunos, e lugar para ensinar, atualmente são três anos de trabalho serio e pretendo seguir em minha jornada! Em momento algum esses comentários maldosos e algumas mentiras me deixaram abalar, tinha meus alunos e coração no que fazia, portanto não tive duvidas do que estava fazendo!



Hoje tenho a confiança de homens e mulheres que tem idade para serem meus pais, famílias que deixam seus filhos tranquilos sob minha orientação, praticantes faixa preta, alguns até com alguns dans (graduação para praticantes acima da faixa preta) permitindo que eu possa acrescentar algo em sua bagagem marcial, enfim pessoas que confiaram em meu conhecimento ou que deixaram entes queridos sob minha orientação. Tenho isso como sinal de que estou no caminho certo, e justamente por isso preciso aprender cada vez mais, para não decepcionar essas pessoas e outras que estão por vir, assim como os antepassados da minha arte, isso de forma geral!

Alguns dos alunos em 2013!

Os laços de confiança e amizade que obtive com meu Sifu, me permitiram coisas que considero grandes para o tempo que tenho de vivencia no Wing Chun, pude acompanhá-lo em entrevistas em programas de TV, tive sua confiança para representar o Wing Chun em minha cidade e em Sorocaba, a honra de representa-lo em uma cerimônia de passagem de nível na filial de São José do Rio Preto, que são orientadas por meus Sidais (irmãos mais novos) Tiago Bezerra  e Walmir Orlandeli, a escolha de optar para que eu lecione em seu mokwoon quando ele tiver algum compromisso, e nesse ano a apresentação do Ano Novo Chinês na praça da Liberdade foi encarregada á minha pessoa e meus alunos, isso desde a ordem que as técnicas seriam apresentadas, até a escolha dos alunos que deveriam se apresentar, uma carga grande de responsabilidade que graças á um trabalho árduo, foi realizado com sucesso, nessa ocasião agradeço aos irmãos de arte William, Rodrigo e Guilherme, que se disponibilizaram para realizar conosco a apresentação!

Passagem de Nível em São José do Rio Preto!

Em entrevista programa Tudo em Foco!

Ano Novo Chinês 2013


Nesses 10 anos a única certeza que tenho é que desejo ser um eterno aprendiz, não podemos restringir nossas ideias á um pensamento único, devemos ser humildes e sinceros em nossos atos, absorvendo o que for bom que outras pessoas, mestres seja da própria arte ou de outra arte possam nos oferecer, conhecimento não ocupa espaço, se achamos que não devemos mais ser aprendizes, acabamos de restringir nossa mente, e ai realmente é o fim, o próprio fim!




Em comemoração a 10 anos de vivencia do Wing Chun, recebi ligações e mensagens de diversos alunos e amigos, e alguns deles puderam separar um tempinho e vir almoçar comigo num bom restaurante chinês em São Roque, em especial o que me causou muita alegria foi contar com a presença do meu Sifu nesse dia, me alegra ver que mesmo com a correria entre lecionar, atender nas terapias, confeccionar os itens que ele gosta, cuidar do seu filho pequeno e esposa, seus animais de estimação, ele separou um tempo e veio até minha cidade apenas para prestigiar esse momento, um dia inesquecível, regado a boas conversas, piadas e vida kung fu, a atitude de meu Sifu me orgulha e transmite o que é realmente o comprometimento e reprodução do termo família Kung Fu, que a próxima geração, sejam meus alunos, ou de outros Sifus e até de Sifus que estão por vir, se espelhem em atitudes como essa, pagar mensalidade em dia não é mais que obrigação do praticante, conviver, comprometer e participar são as atitudes que um verdadeiro membro da família Kung Fu deve demonstrar, seja ele apenas praticante , Sihing ou Sifu! Alunos sem comprometimento jamais serão Sihings e assim por diante!



Sei que muitas vezes temos outros planos e compromissos, mas reflitam e não deixem de participar da vida kung fu fora do treino, os benefícios são grandes e certamente ira aprender coisas que não são possíveis em sala de aula!


Outra situação que não poderia deixar passar em branco foi o jogo de xícaras que ganhei do meu estimado aluno e amigo Antonio Carlos, o qual me deu um cartão dizendo, que as xícaras são para os futuros bai si (cerimônia reverenciar o mestre) que irei realizar, certamente os usarei nas ocasiões de bai si, no entanto não resisti e já estreie o presente enquanto escrevia esta matéria!



Agradeço á todas às pessoas que me ajudam e participaram direta ou indiretamente nessa primeira década de vivencia marcial, não quero ser injusto e esquecer-se de alguém nos agradecimentos, fica aqui um grande abraço á todos que lerem essa postagem e meu sincero agradecimento!

Forte abraço!





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